sábado, 10 de outubro de 2015

Eu cresci com medo de Nostradamus

O ano era 1977. Eu nasci. E infelizmente cresci com medo das profecias de Nostradamus para o ano de 1999. Eu fazia as contas e sabia que viveria até os meus 22 anos, então, se o mundo ia mesmo acabar, como eu acreditava, teria que “acelerar” o processo das coisas que eu gostaria de realizar. Uma dessas frases assustadoras, dizia: “No ano de 1999, sétimo mês, do céu virá o grande terror.”  Lembrem-se que naquela época não tinha internet, nem celular, nós vivíamos das notícias da TV, pura e simplesmente, e quando esse ano foi se aproximando, só se falava disso. Eu pensava ser muito injusto porque eu ia morrer na flor da idade e não eu não teria tido tempo suficiente de fazer tudo o que eu gostaria de fazer. Não me lembro bem dos anos, a ordem cronológica de tudo isso, minha mente é assim, me desculpem, mas me lembro de ter procurado, a minha vida toda, para uma explicação para tudo isso, uma explicação que fizesse sentido na minha mente, quando veio o medo do cometa Halley, em 1986. Alguns diziam que tínhamos de ver pois só passaria de novo em 75 ou 76 anos. Fiz as contas de novo e vi que não estaria viva para apreciá-lo novamente. Mas algumas teorias conspiracionistas diziam que o cometa poderia se chocar com a Terra e destruir tudo, antes mesmo do ano 2000. Aí fiquei apavorada. Vi que o tempo era meu inimigo mesmo, e declarado. O cometa passou e eu fiquei viva. Procurei nas religiões, em quase todas, e continuei procurando até a morte do meu pai em 1997. Nem o fim do mundo poderia ser pior que aquilo. Parei de procurar por um tempo, passei a ser cética. Só sei que os anos passaram, chegou o ano 2000 e nada de terrível aconteceu, a não ser a morte do meu futuro sogro, aquele a quem eu tinha adotado como pai, já que tinha perdido o meu. Então eu comecei a perceber que sobrevivia às dores, às perdas, pode ser que eu não soubesse lidar com isso da melhor maneira possível, mas eu sobrevivia! Depois do meu período cético, continuei minha busca pela explicação onde tudo faria sentido na minha cabeça. Depois de ter passado por uma dor muito grande, a de um aborto, cheguei a algumas respostas e acreditei que poderia estar ali, que na verdade, sempre esteve tão perto de mim e eu não enxergava. Aí fiquei tranquila. Estava tudo dentro de mim, eu escolhia pelo que ia passar ou não, bastava escolher, decidir. Mas não era tão fácil assim, a mente é uma máquina muito bem projetada, graças a Deus! Não bastava querer, temos que sentir, que acreditar. E não é tão fácil de se acreditar quando se tem mais de 30 anos. Vamos nos protegendo de tudo e de todos, que não deixamos muitas coisas se aproximarem de nós por medo, medo até do amor que sentimos. Porque vem a dúvida: “será que somos correspondidos? ”. Com os anos, ficamos desconfiados dos sentimentos que os outros podem ter em relação à nós. Só sei que cheguei ao amor ao próximo, ao amor por tudo e todas as coisas, amor pela vida, amor incondicional. Como eu já tinha uma filha, foi fácil identificar esse amor. Um amor não egoísta, um amor que deseja que todos estejam bem, saudáveis e prósperos, um amor onde todos possam desfrutar do melhor que a vida pode oferecer. E que não teria problema se eu não conseguisse tudo o que queria nessa vida, porque eu era imortal, então isso não importava mais. Eu teria muitas vidas ainda pela frente para atingir o meu objetivo.
 Até que um dia, um amigo me propôs uma simples brincadeira: “e se a única vida que existir for essa?”, “e se não tivermos outra chance?”, “e se não formos imortais e nem tão importantes assim, para Deus ou para o Universo?”, “se formos apenas mais uma forma de vida dentre várias outras?” . E essa brincadeira me fez enxergar que tudo isso tem sim um sentido, o de nos proteger da imensa dor que sentimos, quando por exemplo, perdemos um filho. Essa crença serve sim para acalmar nossa ansiedade, afastar um pouco a tristeza, a continuar a levantar da cama todos os dias, acreditar que amanhã ou algum dia, poderemos reencontrar essa pessoa tão amada e que nos deixou tão cedo, para continuarmos essa vida que não tem sentido sem ela. Sim, para essas pessoas vale muito à pena, e acredito até que, se não fosse essa crença, elas já teriam sucumbido à dor da perda. Mas chego a conclusão, aos 38 anos de idade, que vale mais à pena acreditar que só temos essa vida e mais nada, só temos o agora, só temos esse instante para fazer tudo valer a pena ter sido vivido.  E se por acaso você for uma dessas pessoas que, como eu, tentou ver tudo isso através das cartas de uma cartomante, meu conselho é: “se você vir o futuro, este não mais existirá.” Se você o viu, ele deixará de ser futuro,  e será apenas algo que você quer que aconteça (ou não). Por esse motivo, o conselho mais sábio que me cabe aqui nesse espaço é: não se preocupe, a maior parte das coisas com que nos preocupamos, jamais acontece.
 Levante-se da cama e agradeça por ter aberto seus olhos, por ter tido uma cama confortável onde dormir, por ter comida em sua mesa, por ter roupas para vestir, por ter animais de estimação que valem uma companhia incrível, por ter quem se preocupe com você, por enxergar, por ter braços e pernas, por ter seus movimentos, por respirar, por ter quem te ame, por ter quem te visite no hospital, por ter amigos com quem desabafar, por poder olhar de perto a morte e conseguir se esconder dela, agradeça por estar vivo, agradeça inclusive se estiver sentindo dor, um bom sinal de que você está realmente vivo.


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