terça-feira, 24 de novembro de 2015

O começo do começo - parte I

Capítulo I

No começo, era só escuridão...




Mas aí, ela casou e teve uma filha linda. A bebê era sempre sorridente, chorava pouco e ela estava amando a sensação de ser mãe, de ser inteiramente responsável por uma vida.
Mas esse menina cresceu e, se tornou uma adolescente.
Foi aí onde tudo começou.

_ Mãeeee! Onde está minha canetinha de esconder espinhas?
_ Não sei, é sua, onde você guardou?
_ Não sei, você mexe nas minhas coisas e bagunça tudo!
_ Vamos rápido se quiser chegar na primeira aula.

Aquela foi mais uma entre muitas manhãs típicas na vida de Lisa e Stela, mãe e filha estavam morando (e dormindo juntas) na casa da avó de Stela, mãe de Lisa, desde que ela se separou. Trouxeram também duas cachorras Lhasa Apso, brinquedos, bichos de pelúcia, livros e roupas.
A vida era tranquila, iam seguindo a rotina de escola/casa/trabalho de forma natural. Parecia que nada de importante acontecia. Até o dia em que Stela se tornou uma mulher de verdade, menstruando pela primeira vez.
Lisa ficou feliz e explicou tudo para Stela, mas Stela não teve grandes problemas com isso, pois a maioria de suas amigas da escola já tinham menstruado.
A menstruação em si não era nada perto do que ia começar a acontecer com a pré adolescente de 11 anos de idade. 
A mãe de Stela, Lisa, a levava para a escola todos os dias de manhã e Stela voltava com a perua escolar. Lisa contratou o serviço porque tinha que trabalhar e a avó, Dona Norma, não dirigia e não estava mais na idade de cuidar da neta adolescente mal-criada. Stela era do signo de Áries e seu ascendente também era em Áries, o que fez Lisa concluir que o gênio da menina não melhoraria nem depois dos 30 anos. Mas isso a fez relaxar e entender que essa fase da "adolescência" duraria por toda a vida.

_ Como foi seu dia na escola hoje? - perguntou Lisa.
_ Normal. Igual todos os dias. - respondeu Stela usando da pouca paciência que possuía.
_ Aconteceu alguma coisa boa?
_ O que pode de acontecer de bom na escola? Ninguém gosta de mim, as pessoas são chatas, as professoras me odeiam e todos os dias são sempre iguais.
_ Calma, isso vai passar, também passei por uma fase assim quando tinha a sua idade.
_ Aham...
_ Por que você diz que ninguém gosta de você?
_ Porque não gostam. Todas as minhas amigas estão namorando, menos eu, lógico. Mãe, preciso fazer cirurgia na orelha, no nariz e uma lipo no corpo todo. 
_ Para com isso, você é linda do jeito que é.
_ Aham...Tchau, vou ouvir música.




E assim Stela passava horas e horas no quarto com seu iPad e seu fone de ouvidos, só assistindo aos seus vídeos favoritos. Chegava até a rir sozinha mas quando sua mãe entrava no quarto, a menina virava bicho e se transformava.

_ O que você quer aqui?
_ Vim ficar um pouco com você.
_ Quero ficar sozinha aqui no quarto.
_ Mas o quarto também é meu, Stela.
_ Infelizmente. Tá, fica aí, vou pra sala. 
_ Não precisa, deixa, vou ficar lá com sua avó.

Os dias eram assim, as semanas eram assim, os meses eram assim. O que mudava era o final de semana, quando Stela saía com o pai e às vezes dormia na casa dele. Ao lado do pai, Rodolfo, Stela era outra pessoa. Era animada, gentil, bem disposta, nada parecido com aquele monstro em eterna TPM que era com sua mãe. Lisa sabia disso porque Rodolfo sempre a elogiava, dizia que todos gostavam dela, onde quer que ele a levasse, que ela era educada com todos.

_ Só se for com você, porque comigo ela é o capeta em forma de adolescente. - falou Lisa.
_ Não exagera, nossa filha está se tornando uma mocinha. - disse Rodolfo.
_ Mocinha e gorda! Vocês já viram o tamanho das minhas coxas? - perguntou Stela.

domingo, 1 de novembro de 2015

Uma linda carta de amor

Ele: acho que no próximo fim-de-semana volto pro Brasil.
Ela: que bom! mas ai fica até o ano novo aqui? ou vai ter que viajar mais?
Ele: no ano novo viajo com minha mulher e com as crianças.
Ela: que gostoso, pra onde vocês vão? se é que posso perguntar.
Ele: ainda não sei...é ela quem decide. mas, isso é interrogatório??
Ela: não, longe disso.
Ele: o que foi que eu fiz pra cair na Polícia Federal assim?
Ela: o seu erro fatal foi entrar no meu coração.
Ele: entrei..to dentro...agora foda-se.
Ela: mas quero dizer que fico triste, não por você ir viajar com a sua família, não, isso nunca, mas por eu não fazer parte disso. Cada resposta dessa é uma punhalada no meu coração por mais que você não acredite.
Ele: nossa...pensei que isso fosse resolvido pra você. se é assim, devo sair então....procede?
Ela: isso não é resolvido pra mim ainda. já tive um romance assim e sei, por experiência própria, que não dá em nada. que os maridos permanecem com as esposas. eu que não devo ter ilusões.
Ele: mas nunca te dei motivos pra ter ilusões.
Ela: verdade. então quem deve sair sou eu.
Ele: na época que quis que você viajasse comigo, você não quis...
Ela: não fala besteira. vc falou isso uma vez eu acho.
Ele: nossa que papo é esse?
Ela: quem me deu um belíssimo pé na bunda foi você!
Ele: vamos começar isso de novo?
Ela: domingo é dia de repensar.
Ele: o que foi?? ta de tpm?
Ela: someone still loves you...
Ela: eu preciso aceitar, entender, que não é porque você sonha comigo ou porque sou a única mulher com quem você conversa intimidades, que vai um dia mudar sua posição. não vai e pronto.
Ela: mas você precisa entender que não possso continuar nesse chove não molha.
Ela: preciso seguir minha vida.
Ela: quero formar uma nova família, com você ou sem você.
Ela: eu preciso ir em frente, entende? só isso! sem rolo, sem nervosismo, sem causar mal a ninguém. só entenda o meu lado.
Ela: é um amor que não pode ser correspondido e pronto.
Ele: baby... quero o seu bem... amo você e quando se ama alguém de verdade, se quer o bem dessa pessoa... nunca te prendi, nunca faria isso... quero que você seja feliz... diga o que quer que eu faça pra isso e eu farei... dentro das minhas limitações...
Ela: foi muito bom termos resolvido nossos perrengues, foi bom ter conversado com você.
Ela: na verdade não é você quem tem que fazer nada, sou eu. eu tenho que dar esse passo. eu, sozinha, sem ninguém. nada disso é culpa sua, fica tranquilo.
Ela: às vezes eu tenho opções e não vou por sua causa, não porque não queira ou não deixa, mas porque eu não me permito. eu preciso mudar. desculpa por tudo isso em um domingo.
Ela: também quero o seu bem e sua felicidade sempre. acho que na verdade nunca te esquecerei, mas vou em frente mesmo assim. e se algum dia me perguntarem se tive um grande amor, posso dizer que sim, me lembrarei de você, just that.
Ele: ok my baby, ok my darling. to contigo para o que precisar.
Ele: vou tentar me controlar pra não te procurar. mas to sempre aqui pra quando queiras.
Ela: eu também vou tentar.
Ele: e quando tiver um livro e precisar de algo, tenho como publicá-lo.
Ela: obrigada por tudo, mesmo.
Ele: eu que agradeço, você é muito especial.
Ela: mas acho que não sei lidar com isso.
Ela: você também é e sabe disso.
Ele: só precisa canalizar sua mente e seu corpo com a fé correta e vai arrebentar, conta comigo.
Ela: pelo menos tenho certeza que você sabe disso, que é muito especial pra mim.
Ele: to sempre por aqui, quando quiser.
Ela: eu também estarei.
Ele: só chamar...
Ela: e quero que seja feliz sempre viu?
Ele: me too about you. ok my dear one. a great lovely kiss in your heart
Ele: i love you
Ela: ai como é difícil essa parte! já estou chorando. mas eu também te amo de verdade.
Ela: obrigada por todo o tempo que me dedicou. acho que eu nunca vou sentir isso por alguém de novo. mas aprendi muito em todos esses anos.
Ela: e ficar só ia me fazer sofrer mais e mais com a sua ausência.
Ele: entendo...
Ele: bom... quando quiser ler ou ouvir as merdas que passam pela minha cabeça, estou por aqui. não me esqueça, quero fazer parte do teu sucesso.
Ele: quando for lançar teu livro no Jô, manda um beijo pra mim. tenho certeza que você vai ter muito sucesso, se descobrir quem você é.
Ele: todo mundo ta aqui fora esperando pra te conhecer, escreve logo porra! estamos carentes de pessoas como você: brilhantes, talentosas, maravilhosas e ainda por cima com uma bunda linda. tá, essa da bunda foi só pra descontrair.
Ele: mas por favor, se encontra logo, se solta logo, ganhe novos horizontes, se lança logo. to ansioso pra voltar a ler você, pra ouvir falar de você, pra saber de você! vai logo porra! me obedeça! (risos) te amo.
Ele: fica na paz.  to sempre aqui se precisar.
Ela: te amo! e saber do seu amor por mim já me melhora. só espero que algum dia alguém possa me amar e me ver como você me vê.
Ela: espero que eu mereça isso, esse amor de alguém. mas só sinto gratidão por você existir.
Ele: o meu amor você já tem.  e só não mergulho em você porque não posso. porque senão você estaria aqui na minha cama, na minha vida e no meu dia a dia
Ela: obrigada por isso e por tudo, mesmo!
Ele: vai tomar no cu!
Ela: hahahahahhahahahaha
Ele: você não tem que me agradecer e sim agradecer a Deus por ser como você é
Ela: adoro isso, amizade é isso, amor é isso.
Ele: linda, maravilhosa, talentosa, tudo de bom. se você não fosse isso, eu não amaria você.
Ela: espero encontrar alguém que também ache isso...
Ele: você já tem, ainda não viu.
Ela: te amo seu porra! pqp!
Ele: ama nada! só quer meu corpo, pra gozar e depois me jogar fora (risos)
Ela: hahahaha se fosse isso teria sido tão fácil.
Ela: tchau meu amor...
Ele: vai lá meu amor e ganha o mundo. estarei sempre aqui.
Ele: te amo. um beijo.
Ela: também estarei sempre aqui. um beijo, meu lindo.
Ele: bjo
Ela: (kiss)

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O bilhete premiado (Anton Tchekhov)

Ivan Dmítritch, homem remediado que vivia com a família na base de uns 1200 rublos por ano, muito satisfeito com seu destino, certa noite, depois do jantar, sentou-se no sofá e começou a ler o jornal.
– Esqueci de dar uma olhada no jornal de hoje – disse sua mulher tirando a mesa. – Dê uma espiada para ver se saiu o resultado do sorteio.
– Saiu – respondeu Ivan Dmítritch -, mas você não penhorou seu bilhete?
– Não. Paguei os juros na terça.
– Qual é o número?
– A série é 9499, bilhete 26.
– Então… Vejamos… 9499 e 26.
Ivan Dmítritch não acreditava na sorte da loteria e em outra ocasião jamais se daria ao trabalho de verificar a lista. Agora, porém, que não tinha nada para fazer e o jornal estava bem debaixo de seu nariz, percorreu com o dedo de cima para baixo Os números da série. E não é que logo de cara, corno que para zombar de sua descrença, já no alto da segunda coluna apareceu de repente, diante de seus olhos, o numero 9499! Sem conferir o número do bilhete nem verificar se tinha lido certo, deixou cair rapidamente o jornal no colo e como se alguém lhe tivesse derramado água na barriga, sentiu um friozinho agradável no fundo do estômago. Era urna sensação de coceira terrível e deliciosa ao mesmo tempo.
– Macha – disse com voz surda -, o 9499 está aqui. A mulher olhou para seu rosto surpreso, assustado, e compreendeu que o marido não estava brincando.
– 9499? – perguntou ela, empalidecendo e deixando cair na mesa a toalha dobrada.
– Sim, sim… Está, de verdade!
– E o número do bilhete?
– E mesmo! Ainda falta o número do bilhete. Mas tenha paciência… espere. Então, que tal? De qualquer modo o número de nossa série está, hem? De qualquer modo, entendeu?…
Ivan Dmítritch olhou para a mulher e sorriu num sorriso largo e apalermado como uma criança a qual tivessem mostrado alguma coisa brilhante. A mulher também sorria. Sentia o mesmo prazer que o marido por ele ter lido somente a série e não ter tido pressa em saber do número do feliz bilhete. E tão delicioso, tão angustiante consumir-se e espicaçar-se na esperança de uma felicidade possível!
– A nossa série está – disse Ivan Dmítritch depois de um longo silêncio. – Significa que existe uma possibilidade de termos ganho. Apenas uma possibilidade, mas, apesar de tudo, ela existe!
– Está bem, mas agora, olhe.
– Espere. Ainda teremos tempo a vontade para nos desiludir. Se esta na segunda coluna de cima, quer dizer que o prêmio é de 75 mil. Isso não é dinheiro, é uma força, um capital! E se de repente eu olhar para a lista e lá estiver o numero 26? Hem? Escute, e se tivermos ganho de verdade?
Os cônjuges começaram a dar risada e a olhar demoradamente um para o outro, sem falar nada. A possibilidade da ventura deixara-os obnubilados, e eles não
conseguiam sequer sonhar, dizer para que precisavam daqueles 75 mil, o que comprariam, para onde iriam. Imaginavam apenas Os números 9499 e 75 mil, desenhavam-nos em sua imaginação, mas a idéia da felicidade, que estava tão próxima, parecia não lhes passar pela cabeça.
Ivan Dmítritch andou algumas vezes de um lado para outro com o jornal nas mãos e só quando a primeira impressão se acalmou é que, aos poucos, começou a sonhar.
– E se tivermos ganho? – disse. – Seria uma vida nova, uma catástrofe! O bilhete é seu, claro, mas se fosse meu, antes de mais nada, naturalmente eu compraria algum imóvel, algo como uma propriedade, no valor de, digamos, 25 mil; deixaria uns 10 mil para despesas extras: mobília nova… uma viagem… pagamento de dívidas e assim por diante. Os 40 mil restantes colocaria no banco, para render juros…
– Realmente, uma propriedade seria ótimo – disse a mulher sentando-se e deixando cair os braços no colo. – Nalgum canto, na região de Tula ou de Orlóv… Em primeiro lugar, não seria preciso alugar nenhuma casa de campo e, em segundo, não deixa de ser uma renda.
E na imaginação dele começaram a se aglomerar imagens, uma mais poética e aprazível que a outra. E em cada uma delas ele se via satisfeito, tranqüilo, saudável e chegou a sentir um calorzinho agradável, um calorzão, mesmo! Lá está ele, depois de ter comido uma sopa de legumes fria como o gelo, de barriga para cima na areia quente, na beira do rio ou no jardim mesmo, embaixo de uma tília… Faz calor… O filho e a filha rastejam perto dele, rolam na areia ou caçam algum bichinho na relva. Cochila docemente sem pensar em nada e sente com todo o corpo o que significa não ter de ir ao serviço nem hoje, nem amanhã, nem depois. E quando cansar de ficar deitado, pode ir ver cortar o feno, ou ao bosque, colher cogumelos, ou então ficar observando como os camponeses pescam os peixes com o arrastão. Ao pôr-do-sol, pega um pano, um sabonete e esgueira-se na casa de banho, onde se despe devagarzinho, passa um tempão alisando o peito nu com as palmas das mãos e finalmente cai n’água. Na água, Os peixinhos se agitam em volta das bolhas turvas de sabão e as plantas aquáticas balançam na corrente. Depois do banho, um chá com creme e rosquinhas doces… À noite, um passeio ou uma partida de uíste com os vizinhos.
– Sim, seria bom comprar uma propriedade – diz a mulher, também sonhando. Lê-se em seu rosto que está encantada com os próprios pensamentos.
Ivan Dmítritch imagina o outono chuvoso, as noites frias, o veranico. Nessa época é preciso andar um tempão pelo jardim, pela horta, pela margem do rio até sentir bem o frio e depois beber um copo cheinho de vodka junto com cogumelos salgados ou um pepino em salmoura e pronto – tomar outro trago. As crianças vêm correndo da horta, trazendo cenoura e nabo. Sente-se o cheiro fresco da terra… Depois, estirar-se no sofá e folhear uma revista qualquer, sem pressa, até que o sono chegue. Cobrir o rosto com a revista, desabotoar o colete e entregar-se…
Após o veranico o tempo é fechado, ruim. Chove dia e noite. As árvores despidas choram, o vento é úmido e frio. Os cachorros, os cavalos, as galinhas – não há quem não esteja molhado, melancólico, encolhido. Não se tem por onde passear; sair de casa, nem falar! Passa-se o dia inteiro andando de um canto para outro e olhando tristemente pelas janelas embaçadas. Que coisa enfadonha!
Ivan Dmítritch parou e olhou para a mulher.
– Sabe de uma coisa, Macha, eu iria é para o estrangeiro.
E ficou pensando como seria bom viajar para o estrangeiro, cruzar o oceano profundo e ir para algum lugar no sul da França, para a Itália… Para a Índia!
– Eu também iria para o estrangeiro correndo – disse a mulher. – Mas olhe o número do bilhete!
– Espere! Daqui a pouco…
Andou pelo quarto e continuou a pensar. E se a mulher fosse realmente para o estrangeiro? Viajar é bom sozinho, ou em companhia de mulheres despreocupadas, sem compromisso, que vivem o momento presente, e não com aquelas que ficam o tempo todo pensando e falando em crianças, suspirando, tremendo com medo de gastar um copeque que seja. Ivan Dmítritch imaginou sua mulher no vagão, cheia de embrulhos, cestas, pacotes: suspira e queixa-se que a viagem lhe deu dor de cabeça, que gastou muito dinheiro. É preciso correr na estação atrás de água quente, sanduíches, água potável. Almoçar ela não pode, custa caro…
“Tenho certeza que ela iria controlar cada copeque”, pensou ele, olhando para a mulher. “O bilhete é dela, não é meu! E pra que ela precisa ir para o estrangeiro! O que é que lhe falta ver lá de importante? Já sei. Ficará fechada o tempo todo no hotel e não me deixará desgrudar dela um só momento.”
E pela primeira vez em sua vida reparou que a mulher tinha envelhecido, ficara feia e cheirava a cozinha, enquanto ele ainda era moço, saudável, viçoso, bom para se casar uma segunda vez.
“Claro, tudo isso é bobagem, é besteira”, pensou. “Mas… para que iria ela ao estrangeiro? O que ela aproveitaria lá? Mas iria mesmo… Imagino. Para ela Nápoles ou Klin iriam ser a mesma coisa. Ficaria me atormentando e eu dependeria dela. Tenho certeza de que na hora em que recebesse o dinheiro, iria trancá-lo a sete chaves, como faz o mulherio… Iria escondê-lo de mim… Aos parentes dela tudo, mas para mim, contaria cada copeque.
Ivan Dmítritch ficou pensando na parentela. Logo que todos esses irmãozinhos, irmãzinhas, titias, titios soubessem do ganho, viriam se arrastando, bancando os mendigos, sorrindo untuosamente, bajulando. Eta gentinha sórdida! Se lhe oferecem a mão, pegam o braço. Se não lhe oferecem, amaldiçoam, rogam pragas, desejam todo tipo de desgraça.
Ivan Dmítritch lembrou-se de seus parentes e seus rostos, que ele sempre olhara com indiferença, pareciam-lhe agora odiosos, repulsivos.
“São uns canalhas”, ele pensou.
E o rosto da mulher começou também a parecer-lhe odioso, repulsivo. Em seu íntimo começou a ferver um ressentimento contra ela e ele pensou com alegria perversa: “Não entende nada de dinheiro, por isso é avarenta. Se ganhasse, mal me daria cem rublos, e o resto iria direto para o cofre”.
Já olhava agora para a mulher com ódio e não mais com um sorriso. Ela também olhava para ele com maldade e com ódio. Ela tinha seus próprios sonhos dourados, seus pianos, suas idéias e sabia perfeitamente no que estava pensando o marido. Sabia que seria o primeiro a avançar no que ela teria ganho.
“É bom sonhar por conta dos outros!”, dizia o olhar dela. “Não, você não conseguirá!”.
O marido compreendeu seu olhar: o ódio ferveu-lhe no peito e para decepcionar sua mulher e fazer-lhe mal olhou rápido na quarta página do jornal e anunciou solene:
– Série 9499, bilhete 46! Não 26!
A esperança e o ódio desapareceram ambos de repente e, no mesmo instante, Ivan Dmítritch e sua mulher acharam os aposentos escuros, pequenos e abafados, e o jantar que tinham acabado de comer pesado e insosso, e as noites longas e enfadonhas.
– Só o diabo sabe – disse Ivan Dmítritch, começando a implicar. – Por todo lado que eu pise, só há papéis, migalhas, casquinhas, sei lá. Será que nunca varreram esses quartos! Terei de ir embora de casa, o diabo que me carregue. Vou sair e me enforcar na primeira árvore.

sábado, 10 de outubro de 2015

Eu cresci com medo de Nostradamus

O ano era 1977. Eu nasci. E infelizmente cresci com medo das profecias de Nostradamus para o ano de 1999. Eu fazia as contas e sabia que viveria até os meus 22 anos, então, se o mundo ia mesmo acabar, como eu acreditava, teria que “acelerar” o processo das coisas que eu gostaria de realizar. Uma dessas frases assustadoras, dizia: “No ano de 1999, sétimo mês, do céu virá o grande terror.”  Lembrem-se que naquela época não tinha internet, nem celular, nós vivíamos das notícias da TV, pura e simplesmente, e quando esse ano foi se aproximando, só se falava disso. Eu pensava ser muito injusto porque eu ia morrer na flor da idade e não eu não teria tido tempo suficiente de fazer tudo o que eu gostaria de fazer. Não me lembro bem dos anos, a ordem cronológica de tudo isso, minha mente é assim, me desculpem, mas me lembro de ter procurado, a minha vida toda, para uma explicação para tudo isso, uma explicação que fizesse sentido na minha mente, quando veio o medo do cometa Halley, em 1986. Alguns diziam que tínhamos de ver pois só passaria de novo em 75 ou 76 anos. Fiz as contas de novo e vi que não estaria viva para apreciá-lo novamente. Mas algumas teorias conspiracionistas diziam que o cometa poderia se chocar com a Terra e destruir tudo, antes mesmo do ano 2000. Aí fiquei apavorada. Vi que o tempo era meu inimigo mesmo, e declarado. O cometa passou e eu fiquei viva. Procurei nas religiões, em quase todas, e continuei procurando até a morte do meu pai em 1997. Nem o fim do mundo poderia ser pior que aquilo. Parei de procurar por um tempo, passei a ser cética. Só sei que os anos passaram, chegou o ano 2000 e nada de terrível aconteceu, a não ser a morte do meu futuro sogro, aquele a quem eu tinha adotado como pai, já que tinha perdido o meu. Então eu comecei a perceber que sobrevivia às dores, às perdas, pode ser que eu não soubesse lidar com isso da melhor maneira possível, mas eu sobrevivia! Depois do meu período cético, continuei minha busca pela explicação onde tudo faria sentido na minha cabeça. Depois de ter passado por uma dor muito grande, a de um aborto, cheguei a algumas respostas e acreditei que poderia estar ali, que na verdade, sempre esteve tão perto de mim e eu não enxergava. Aí fiquei tranquila. Estava tudo dentro de mim, eu escolhia pelo que ia passar ou não, bastava escolher, decidir. Mas não era tão fácil assim, a mente é uma máquina muito bem projetada, graças a Deus! Não bastava querer, temos que sentir, que acreditar. E não é tão fácil de se acreditar quando se tem mais de 30 anos. Vamos nos protegendo de tudo e de todos, que não deixamos muitas coisas se aproximarem de nós por medo, medo até do amor que sentimos. Porque vem a dúvida: “será que somos correspondidos? ”. Com os anos, ficamos desconfiados dos sentimentos que os outros podem ter em relação à nós. Só sei que cheguei ao amor ao próximo, ao amor por tudo e todas as coisas, amor pela vida, amor incondicional. Como eu já tinha uma filha, foi fácil identificar esse amor. Um amor não egoísta, um amor que deseja que todos estejam bem, saudáveis e prósperos, um amor onde todos possam desfrutar do melhor que a vida pode oferecer. E que não teria problema se eu não conseguisse tudo o que queria nessa vida, porque eu era imortal, então isso não importava mais. Eu teria muitas vidas ainda pela frente para atingir o meu objetivo.
 Até que um dia, um amigo me propôs uma simples brincadeira: “e se a única vida que existir for essa?”, “e se não tivermos outra chance?”, “e se não formos imortais e nem tão importantes assim, para Deus ou para o Universo?”, “se formos apenas mais uma forma de vida dentre várias outras?” . E essa brincadeira me fez enxergar que tudo isso tem sim um sentido, o de nos proteger da imensa dor que sentimos, quando por exemplo, perdemos um filho. Essa crença serve sim para acalmar nossa ansiedade, afastar um pouco a tristeza, a continuar a levantar da cama todos os dias, acreditar que amanhã ou algum dia, poderemos reencontrar essa pessoa tão amada e que nos deixou tão cedo, para continuarmos essa vida que não tem sentido sem ela. Sim, para essas pessoas vale muito à pena, e acredito até que, se não fosse essa crença, elas já teriam sucumbido à dor da perda. Mas chego a conclusão, aos 38 anos de idade, que vale mais à pena acreditar que só temos essa vida e mais nada, só temos o agora, só temos esse instante para fazer tudo valer a pena ter sido vivido.  E se por acaso você for uma dessas pessoas que, como eu, tentou ver tudo isso através das cartas de uma cartomante, meu conselho é: “se você vir o futuro, este não mais existirá.” Se você o viu, ele deixará de ser futuro,  e será apenas algo que você quer que aconteça (ou não). Por esse motivo, o conselho mais sábio que me cabe aqui nesse espaço é: não se preocupe, a maior parte das coisas com que nos preocupamos, jamais acontece.
 Levante-se da cama e agradeça por ter aberto seus olhos, por ter tido uma cama confortável onde dormir, por ter comida em sua mesa, por ter roupas para vestir, por ter animais de estimação que valem uma companhia incrível, por ter quem se preocupe com você, por enxergar, por ter braços e pernas, por ter seus movimentos, por respirar, por ter quem te ame, por ter quem te visite no hospital, por ter amigos com quem desabafar, por poder olhar de perto a morte e conseguir se esconder dela, agradeça por estar vivo, agradeça inclusive se estiver sentindo dor, um bom sinal de que você está realmente vivo.


sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Caiu um cisco no meu olho aqui

Vivo dizendo ou pensando que temos de fazer as coisas, qualquer coisa, com amor. Na verdade, não é que "temos" e sim "seria melhor se" fizéssemos tudo a partir de um bom sentimento que brota dentro de nossos corações. Mas acabei chegando, de algum modo, na paixão, no passional. E cheguei à conclusão que passional não é tão bom quanto amoroso. A paixão ou o ato passional é aquilo que te tira do sério por completo, aquilo que existe em pequena porcentagem dentro de você e se torna tudo aquilo que, na verdade, você não deseja ser.
Teve um período da minha vida que eu achava que eu deveria ser mais passional do que pacífica e passiva. Achava lindo os rompantes de ciúmes, as brigas, as gritarias. Mas tive de viver tudo isso que eu achava bonito na relação dos outros para perceber que não era bem por ai.
Quando eu tive uma relação estável, tranquila, eu acreditava que faltava a tal da paixão. Faltava ciúmes e todas as cenas escandalosas que vem com ela. Eu sabia que era isso que faltava no meu relacionamento.
Eu quis tanto que acabei criando um relacionamento desses para a minha vida. E só assim para perceber que o buraco é mais embaixo.
Definitivamente, não gostei. E também não teria outro desses. Na minha concepção são relacionamentos que te podam, que te apara as asas, daqueles que não te deixa sair com certo tipo de roupa ou cabelo ou cor de esmalte, daqueles que fazem você esquecer quem você é, daqueles que te anulam. São relacionamentos baseados na adrenalina, no nervosismo, no "faça isso, que eu te dou o troco na mesma moeda" porque acreditam que "chumbo trocado não dói". Mentira. Dói em mim por fazer e dói em você por querer se vingar do que eu fiz.
E vingança não é lá um dos sentimentos mais elevados que existem, mas existem piores.
Apesar de tudo isso, ainda considero a indiferença muito pior do que a vingança. Afinal, a vingança tem paixão dentro dela, a indiferença não tem nada.
Mas voltando ao tema a ser desenvolvido, a paixão pode te levar a loucura, pode fazer você esquecer de raciocinar e apenas agir instintivamente. Eu, que estive dos dois lados, considero que o mar calmo do amor, nos leva além do que imaginamos e a paixão nos deixa aquém do que desejamos.
Esse fogo da paixão, além de ser um fogo bastante rápido e queimar tudo e todos pela frente, deixa marcas em suas mãos e no seu coração. Pode te levar a desconfiar de todos que aparecem na sua vida, pode te levar a acreditar que alguém não te ame por não te dar atenção 24 horas por dia. E não é bem por ai. Se você manda uma mensagem, ou um e-mail, ou algo assim, e a pessoa demora para responder não quer dizer que essa pessoa não te ame, às vezes só quer dizer que ele/ela não pode responder no momento porque pode estar ocupado trabalhando e não te traindo.
Mas se for assim, brando, não é amor, não pode ser, porque quando a gente ama, a gente sente falta, a gente liga, a gente sai com o  carro de madrugada, a gente enche a cara, isso sim é amor. Será?
Pelo menos muitas letras de músicas dizem isso, e alguns filmes também, se não for assim intenso, não vale a pena ser vivido.
Eu acredito que isso seja mais uma "conspiração" para que fique cada vez mais difícil você (e eu também) encontrarmos um amor verdadeiro. Não sei quem exatamente ganha com essa conspiração, mas alguém começou com ela. Não duvido que tenha sido de alguém muito ciumento.
Portanto, pouco importa do que eu ache ou deixe de achar. O que eu quero dizer é: não compare os seus relacionamentos. Nunca compare nada, nem mesmo você com a mulher que você acha a mais linda do mundo. Sabe por quê? Não vale a pena e você vai se decepcionar. Se ela é conhecida, pública, tem dinheiro, usa photoshop, plástica, botox, drenagem linfática, desmaia de fome, e você se compara a isso, sem nem ao menos saber a metade do que ela tem que passar para ser quem é.
Por outro lado, se uma amiga sua tem um relacionamento desses bem passionais e você compara ao seu, estabilizado, calmo, tranquilo, centrado, vai acabar acreditando que é falta de amor, de tesão, e corre o risco de largar tudo para ir atrás de algo que não existe. Porque esse "fogo" não dura muito tempo, ele esquenta muito rápido, mas apaga tão facilmente como começou.
Lembra do ditado: 'não troque o certo pelo incerto'? É mais ou menos isso. Desejo que o seu relacionamento amoroso, com quem quer que seja, independente de sexo, idade, religião, desejo que seja autêntico, original e cheio de um amor tranquilo e duradouro. Ah! E que você aprenda a conservar. Não acredite que a grama do vizinho é mais verde do que a sua, porque você não sabe o que ele passa para deixá-la com aquela cor.


A coragem de Hugo Cabret

Terminei outro dia a leitura do livro "A invenção de Hugo Cabret" do escritor Brian Selznick, de propriedade da minha filha, porque eu tinha assistido ao filme mas ainda não tinha lido o livro. E apesar de achar o filme lindíssimo, as ilustrações do próprio autor no livro, não deixam nada a desejar, são maravilhosas.
Como eu adoro literatura infanto-juvenil e fantasias, decidi que essa história seria uma entre as minhas preferidas.
A história se passa em Paris no ano de 1931. Hugo Cabret é um menino órfão mas que adora mecanismos. Enquanto seu pai ainda era vivo e trabalhava em um museu, encontrou um autômato abandonado por lá e contou para o seu filho que, insistiu que o pai o consertasse. Mas não conseguiu concluir seu objetivo porque morreu antes disso, deixando essa tarefa para Hugo, que por sua vez, imaginou que assim que consertasse o autômato, este lhe daria alguma mensagem de seu falecido pai. Hugo entra de cabeça nesse propósito e enfrenta tudo e todos para alcançar seu objetivo. Mas as entrelinhas é que me fascinaram. Um menino completamente sozinho, morando (escondido) em uma estação de trem, ajustando os relógios, passando fome, frio, tendo que roubar, sempre sujo e sem ninguém para se preocupar com ele. Até aí ok, a história é triste.
Mas mesmo passando por todas essas dificuldades, ele não desisti de seu sonho e continua indo em frente, apesar de todos os obstáculos e acaba expandindo esse sonho com outros personagens do livro.
Hugo Cabret, em minha opinião, é um menino muito corajoso, mas não por conseguir sobreviver, mas sim por não deixar que nada o faça desistir. Eu me lembrei que um dia também fui assim, mas cheguei a esmorecer diante de algumas dificuldades. Sinto nele o perfume da coragem da juventude, da ausência do medo de persistir naquilo que quer. Nós vamos crescendo e deixando alguns (ou muitos) sonhos para trás, vamos nos esquecendo deles porque as responsabilidades crescem a cada dia. Então vamos trabalhando para sobreviver, vamos gastando horas em frente a TV, ao smartphone, nas redes sociais, vamos vivendo no piloto automático, porque, infelizmente, perdemos esse vigor da juventude. Esse ar heróico que tínhamos quando achávamos que seríamos jovens para sempre, que nada nem ninguém nos tiraria de nosso eixo. Mas nós mesmos saímos de nossos eixos, consciente ou inconscientemente.
Vamos deixando a vida nos levar, vamos empurrando com a barriga, vamos deixando acontecer. Até um dia quando você ouve uma música no rádio do carro que te traz a lembrança de quem você era e de quem você é hoje. Uma música ou um filme ou um perfume que te lembram uma época e que você tinha simplesmente esquecido. Nessa hora nos damos conta do tempo que passou.
É só olhar para os jovens, adolescentes e você se lembrará. Lembrará que já foi como eles, já teve esse ar imbatível, mas com a correria e os problemas da vida nos acovardamos.
E foi nesse livro que lembrei de como eu era e de como eu sou hoje. Mas esses sinais estão em toda a parte, basta você estar disposto para olhar para eles. E, graças a Deus, eles dizem claramente: sempre há tempo de voltar e fazer de novo. Se você estiver olhando para a sua vida e não estiver satisfeito com o que vê, pare e comece de novo. Você pode errar, você pode falhar, você pode começar do zero novamente, porque sempre é tempo de recomeçar. Não tenha medo das mudanças e nem das suas escolhas, lembre-se que, mesmo se você não escolher, escolhido estará. Então aja. Corra atrás. Faça o que tem vontade de fazer. Mesmo que você não possa largar seu emprego, mantenha o que você ama fazer como um "hobby", mas mantenha por perto, não se distancie de você mesmo.
Olhe de perto para tudo de bom que a sua vida tem hoje, mas não pare mais que um segundo observando os problemas, porque você tomará a decisão certa para resolvê-los, se preocupar não vai ajudar em nada. Respire e sinta que um sangue juvenil ainda corre em suas veias, você não está velho nem ultrapassado, você é a expressão física da vida. Dê valor aos seus sentimentos e emoções, perceba que não está sozinho e siga em frente com todo o seu amor.
Não perca nunca seu entusiasmo em viver, em acordar cedo, em ter que ir trabalhar, em ter que ir ao médico, em sentir alguma dor, em fazer uma refeição, em saborear uma bebida. Volte a enxergar como você e eu enxergávamos antes de nos esquecermos quem éramos.
Grata Hugo Cabret, professor H. Alcofrisbas, autômato, ao cinema, a literatura, a Brian Selznick, que nossos esforços não sejam em vão, que possamos despertar aqueles que passam por nossas vidas da melhor forma possível.

sábado, 26 de setembro de 2015

O primeiro dia do resto da minha vida

Hoje, dia 26 de setembro de 2015, é um dia muito importante em minha vida, e muito feliz também. Hoje foi o dia que minha roda começou a girar, que minhas escolhas se tornaram realidade, que tudo começou a fazer sentido.
Passei grande parte da minha vida apenas sonhando, eu caminhava inconsciente por um caminho mas, quando comecei realmente a prestar atenção nas pedras do caminho, nas cores da estrada, tudo começou a fazer sentido e também a se realizar.
Sou grata, gratíssima, a todos os mestres que encontrei por esse caminho, a todas as pessoas que de alguma forma, contribuíram para que eu seguisse em frente. Todos, por menor que tenha sido esse incentivo, às vezes uma única palavra, às vezes um olhar, às vezes um sorriso, tudo contribuiu para que eu pegasse a minha coragem de volta, onde quer que ela estivesse. E foi o que eu felizmente fiz!
Quando eu parei de olhar para as dificuldades e os obstáculos, quando eu parei de olhar o problema e decidi olhar somente para a solução, parece que os véus da ilusão caíram todos. Estava lá o tempo todo, mas eu não conseguia enxergar.
Eu tentei tanta coisa na vida, foram tantos rumos, tantos tropeços, tantos aprendizados, e todos me foram úteis, todos me ajudaram a ser quem eu sou e quem eu me tornei, em quem eu quis me transformar.
Hoje recebi um "sim", um "vai lá, vamos te dar uma chance", "ok, vamos deixar você tentar" e isso me bastou para repor as minhas energias que estavam quase perdidas, não no esquecimento, mas na falta de entusiasmo.
Apenas esse "sim" foi o suficiente para me provar que eu estou no caminho certo, que é realmente por aqui, porque até então, eu andava às cegas, não sabia onde queria ir e não me importava onde eu chegava, mas eu sabia, quando chegava, que não era ali que eu queria estar.
Hoje eu sei e é aqui mesmo, entre os barulhinhos do teclado, entre as letras que vão formando palavras, ideias que vão se transformando em frases, emoções que vão tomando forma. É aqui, sempre foi e sempre será.
Aqui é o lugar onde eu sou realmente eu, onde não preciso me esconder ou fingir, onde me deixo ser exatamente como eu sou. E se eu tentar imaginar onde possa me sentir assim para sempre, a resposta é sempre a mesma: escrevendo.
Me sinto tão completa quando estou aqui, que não preciso de mais nada. Me sinto realizada.
Pode ser que para a maioria de vocês, tudo tenha sido mais simples ou mesmo mais rápido, mas para mim demorou um pouco mais, mas sei que ainda não é tarde, nunca é, "sempre é tempo de recomeçar" já se falou em um filme, e parece que é mesmo.
Aquele papo de "acontece quando tem que acontecer" ou "acontece quando você não está esperando ou não está prestando a atenção" também. Tudo faz sentido agora. Tive uma epifania.
Em breve, conto mais novidades.
Por hoje, somente esse meu post semanal, que escrevo aos sábados. Ótima vida a todos vocês.

sábado, 19 de setembro de 2015

Sobre a arte da escrita

Espero que você conheça o Stephen King, ou pelo menos, já tenha ouvido falar, porque é dele que vou falar hoje.
O grande mestre do terror e do suspense, nos presenteou com um livro chamado “Sobre a Escrita” que chegou esse ano no Brasil pela Suma das Letras. É como se fosse um guia prático para aqueles que tem a pretensão de se tornar escritor um dia. Mas é bem mais do que isso. Com uma linguagem clara e direta, ele desafia o leitor a cada episódio que acha necessário fazer e nos diz que podemos simplesmente fechar o livro.

Claro que também há a parte biográfica, onde ele conta, de forma muito divertida, seus passos na infância, adolescência e maturidade, sem esquecer de ser sincero, muito sincero na parte da dependência de drogas e álcool. O que nos aproxima dele de forma natural, parece que estamos conversando com o Sr. King na sala de casa.
Mas o grande lance desse livro, com título original “On Writing” escrito em 2000, é que ele consegue acabar com o misticismo que envolve a carreira de um escritor profissional, acaba definitivamente com a aura inebriada pela fumaça de cigarros, álcool, longas madrugadas sem inspiração, delírios e um certo charme de “ter” de ser assim para se tornar um bom escritor.
Nada disso. Se você quer se tornar um escritor profissional, você deve, é claro, saber escrever. Ele diz que todos temos uma caixa de ferramentas dentro de nós, por mais que não tenhamos estudado letras, sabemos como escrever bem e devemos usar todas as ferramentas que estão em nossa caixa para isso: gramática, pontuação, verbos, noção de parágrafo, diálogo e o interessante uso de advérbios. Além de usar essa caixa e pegar as ferramentas necessárias a cada momento, devemos também ler muito, ler tudo, tudo o que for possível e estiver disponível, ao nosso alcance. Ele diz: ‘se você não tem tempo para ler, não tem tempo para escrever’.
Mas voltando ao grande lance do livro é que para se tornar um escritor profissional de verdade, para ser lançado por uma editora, você deve ter uma árdua rotina e nenhuma, ou quase nenhuma vida social. Ele escreve todos os dias, para a imprensa em geral diz que só não escreve no Natal, mas desmente isso no livro. Stephen King escreve duas mil palavras por dia na parte da manhã. O resto do seu dia é divido entre leituras de cartas de fãs, coleta de ideias para seu próximo livro, conviver em família, fazer algumas refeições, caminhar e ler. Ele nunca para de escrever como também nunca para de ler.
Se você quer que a musa inspiradora apareça para você, que no caso dele não é uma mulher, e sim um homem, essa ‘inspiração’ deve saber quando e onde te encontrar, e ela tem que te encontrar trabalhando, escrevendo. Não adianta ficar sentado esperando

ela chegar, porque não vai, são raras as suas aparições, e não se pode esperar isso acontecer para você começar a escrever o seu livro.
Então, faça chuva, sol, tempestade, ventania, frio, calor, granizo, não importa, escreva todos os dias. Tenha um local específico para isso, um lugar onde você possa simplesmente ‘fechar a porta’, ficar longe das conversas rotineiras e telefonemas inoportunos e principalmente, nos dias de hoje, da TV e das redes sociais. Se isole, fique lá e não saia enquanto não atingir sua meta diária de palavras. Não mantenha nada dentro desse quarto que possa lhe distrair e não saia de lá até ter escrito, no começo pelo menos, mil palavras por dia.

Esqueça festas e baladas, esqueça sua vida social, esqueça a hora do almoço, não tire seu livro do seu foco principal. E se você quiser mesmo se tornar um escritor, você irá encontrar esse tempo para escrever. Ele não fala para você abandonar seu emprego e ficar o dia inteiro escrevendo, mas pede para se esforçar, escrever mesmo que esteja cansado, com sono, com fome ou até doente, escreva.
Outra coisa muito interessante é a persistência. Se é isso mesmo que você quer, não desista, porque até mesmo o Stephen King espetava suas recusas em um prego na parede, e eram muitas. Não desista na primeira tentativa, não desanime com o primeiro ‘não’, siga em frente se for isso mesmo que você quer para a sua vida.
Claro que ele começou a escrever desde muito cedo, sua mãe o apoiava muito, hoje em dia, sua esposa, Tabitha, também escritora, é sua leitora ideal e a primeira crítica de seus
best sellers, a maioria viraram filmes, claro poxa, ele é o Stephen King! Então ele mostra como chegou até onde está, o que aconteceu para que ele chegasse exatamente onde queria. E foi assim: seguindo em frente e não desistindo nunca do que queria.
Nem sempre foi fácil, afinal ele têm problemas como todos nós temos, doença e morte em família e no caso dele até dependência química, mas ele conseguiu superar tudo isso para continuar a fazer o que ama fazer: escrever. Hoje em dia ele pode se dar ao luxo de ser escritor em tempo integral, mas no começo da carreira teve vários outros empregos e encaixava a escrita em algum horário, e ele também cita vários outros autores assim, que tinham empregos completamente diferentes mas que escreviam mesmo assim, encontravam um tempo para isso, ou na verdade, ‘criavam’ esse tempo para escrever porque era isso que eles queriam ser.
Agora você pode se perguntar: ‘mas eu não tenho certeza se é isso que eu realmente quero para minha vida’ ou então ‘vou me esforçar tanto para não ganhar nada ou quase nada?’.
A resposta do Stephen King (e agora a minha também) é assim: ‘nunca foi pelo dinheiro’. Nunca deve ser pelo dinheiro. Se for isso que você está procurando, então esqueça e vá fazer qualquer outra coisa, menos escrever. O ato de escrever um livro, de contar histórias, de entrar na mente dos leitores deverá ser de pura diversão. Se você não se divertir e achar isso um fardo, você não nasceu para isso. Mas se ao escrever, você se diverte, se sente alegre, feliz, aí sim você pode vir a ser um bom escritor profissional. 

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O nosso tempo

"Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou" - essa deveria ser a premissa nossa de cada dia. Viver cada dia como se fosse o último, porque um dia a gente acerta. E em vez de ficar tentando consertar o passado ou tentando adivinhar o futuro, vamos trabalhar com o que temos em mãos nesse exato momento, que é, sempre foi e sempre será, somente o AGORA. Tudo o que eu tenho se resume a este exato momento. A cada inspiração e expiração acontece o meu agora e o seu também.
Vamos tratá-lo com todo o respeito que ele merece. Ele é único, exclusivo, singular, e nós o perdemos à toa, com pensamentos cotidianos, com preocupações que não vão nos levar a lugar nenhum. Ele só existe nesse agora, nesse que acabou de passar.
Lembram do coelho da Alice no país das maravilhas dizendo: "estou atrasado"?  É isso! Estamos sempre atrasados porque quase nunca estamos presentes.
Se ficarmos atrás da nossa religiosidade, da nossa espiritualidade, vai levar tempo demais até percebermos que o que importa é somente esta vida. Se existem outras, não importa, o que importa é o que vamos fazer com essa que temos nas mãos.
Vamos vivê-la dignamente? E com isso eu quero dizer: vamos fazer o que realmente amamos ou vamos tentar ganhar dinheiro nessa e deixar o que amamos de lado?
Eu não sei vocês, mas eu acreditei em uma mentira e só consegui desmascará-la agora, com meus 38 anos de idade. "Faça o que você ama e não terá que trabalhar um dia sequer na vida", já ouviram essa frase? E ela é verdadeira. Não adianta procurar em outros lugares, não adianta mudar de país, de paisagem, de problemas, de idioma, tudo está dentro de nós, o Universo está dentro de cada um de nós. Afinal, somos feitos de poeira de estrelas, não é mesmo? Nada mais justo do que levar isso ao pé da letra, literalmente. Somos seres cósmicos.
Somos perfeitos, divinos em nossa humanidade. Não temos tempo a perder. Pode ser que tenhamos algumas chances de aprender, como a vida faz com as crianças, mas não será a vida toda, uma hora vamos ter de crescer. E o Peter Pan estava errado em querer ser eternamente uma criança. Nós amadurecemos e nos tornamos mais conscientes e sábios, não há nada de errado com isso, não mesmo!
Estou achando o máximo.
Ter a liberdade de fazer o que realmente quero fazer. Sem me preocupar com as pequenas coisas. Com a marca da roupa que estou vestindo, se estou "adequada" ou bem maquiada. Simplesmente vou e faço e acho isso lindo, genial e prazeiroso. Sou eu mesma. Simplesmente eu. E isso é bom.
Consigo me dar valor e perceber o valor que as pessoas me dão também.
Isso é satisfatório para mim. Ser eu mesma e fazer o que gosto, não tem preço realmente.
E se um dia estiver em dúvida e não souber o que fazer ou para onde ir, meu conselho é: não faça! não vá! Porque quando queremos algo realmente, isso está tão decidido dentro de nós que não há espaço para a dúvida.
Viva como quer viver, se conhecendo a cada dia mais e se respeitando a cada dia mais e as coisas vão se encaixar. Boa sorte para nós! Alea Jacta Est!

domingo, 6 de setembro de 2015

A vida é minha

Bom, então vamos lá... Tenho que começar de alguma maneira, e decidi que será essa. Fui aconselhada por minha "terapeuta" a ativar o blog novamente. Digo terapeuta porque é justamente isso que ela se parece para mim.

Não vou entrar em detalhes (não agora) de quem é ela realmente. Mas são coisas que acontecem com a gente quando estamos dispostos a perceber. Se você quiser perceber algo, descobrirá esse algo em muitos lugares que antes pensava que não encontraria. Se você pensa em trocar de carro e decide: "estou pensando em comprar um Duster", o que mais você verá nas ruas serão Dusters de todas as cores possíveis. Mas isso não é milagre, eles já estavam lá antes, mas você só começou a "percebê-los" no momento em que decidiu os ver. E isso aconteceu comigo a vida inteira, e está acontecendo agora, com 38 anos de idade. Sempre soube que eu queria mesmo era escrever, durante toda a minha vida eu soube, mas encobri essa minha vontade porque fui educada a acreditar que ser escritora não era profissão, que não traria o dinheiro necessário para pagar as contas. Então me formei em Publicidade e Propaganda, fiz estágios em agências, mas como sempre achavam meu sorriso bonito, me colocavam como Atendimento, e como não era isso que eu queria, saía do emprego. Procurei em muitos lugares, isso ninguém pode falar, procurei mesmo. Fui recepcionista de escola de idiomas, fiz muitos estágios em agências de publicidade, participei de eventos, trabalhei com minha mãe em um restaurante por quilo, fui corretora de imóveis, fui freelancer em site, fui professora de yoga, abri uma hamburgueria, e tudo isso para não querer ver que o que eu queria mesmo era simplesmente escrever. Escrever qualquer coisa, manual, bula de remédio, qualquer coisa. Eu entendia que ganharia dinheiro fazendo outras coisas, menos escrevendo. Isso foi basicamente o tempo em que os judeus ficaram perdidos no deserto, 40 anos! Estou quase lá. Mas só realizei isso agora: não ganharei dinheiro enquanto não fizer aquilo que eu amo fazer. Simples assim. E pior! Não posso culpar ninguém pelo meu fracasso. Ele é todo meu! Assim como as experiências são todas minhas. Ultimamente, estou conhecendo pessoas que estão trazendo isso à tona, bem no meu focinho. Parece que elas combinaram. Se eu não fizer isso agora, já, ficarei mais tempo dando voltas em torno do meu próprio rabo. E sendo infeliz ainda por cima. O que eu quero dizer com tudo isso? Quero dizer, como bem disse Joseph Campbell: "Follow your bliss", traduzindo livremente como "Siga a sua graça", siga aquilo que te faz feliz, faça aquilo que quiser fazer mesmo com comentários de que isso não dá dinheiro, que não dá respeito, que não é profissão. Se é isso mesmo que você quer, vá em frente, e não olhe para trás, não tem nada lá que possa te ajudar. Não deixe que o seu entusiasmo vá embora, não se permita entrar em uma rotina delirante e alucinante, focando apenas em ganhar dinheiro. Vida só existe uma, então vamos vivê-la dignamente. Se Deus existe e te deu um dom, não há porque não usá-lo, isso seria desperdício. E desperdício para você, somente você. Se ficar esperando que chegue o momento certo, a hora certa, ter dinheiro suficiente para fazer aquilo que realmente gosta, pode ser que não haja mais tempo nem saúde para isso, porque você se deixou torturar a vida inteira fazendo o que não queria, estando onde não queria estar, sorrindo para quem não queria sorrir, bebendo com quem não queria beber. 
Tenho uma filha com 12 anos de idade e se eu pudesse deixar apenas um conselho para ela, seria esse: faça o que você ama fazer. O resto que você imagina ou deseja virá junto com isso. Apenas não desperdice seu tempo focando em coisas e carreiras que não dizem nada sobre você. Eu demorei todo esse tempo, mas acredito que ainda reste algum tempo para que eu posso mudar as coisas. Estou iniciando isso nesse exato momento, vocês são testemunhas. Não dê ouvidos ao medo, ele parece ser de um tamanho bem maior do que realmente é. Também não se preocupe, porque a maioria das coisas com as quais nos preocupamos, perdemos noites e noites de sono, jamais acontecem, sou prova viva disso. Então é isso meus queridos, FOLLOW YOUR BLISS!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Ai que saudade!!!

Status: última postagem 19/07/12!!!! Afffffeeeee

Aí vem a pergunta: Por que você ficou tanto tempo sem escrever?????

A resposta clássica "falta de tempo" não cabe mais na minha maturidade, foi falta de vontade mesmo, ou vontade de esquecer que minha vida realmente é escrever, que dependo desses barulhinhos das teclas do computador para me inspirar e para inspirar vida pura dentro de mim.
Estou prestes a completar 38 anos de idade e como as coisas mudaram até aqui, quanta coisa aconteceu!
Estou feliz, estou satisfeita. Me sinto muito bem de volta.
Espero que estejam todos ai ainda, ou melhor, que venha mais e mais.

Tenho que agradecer muito a Apple, não lembrava nem a senha nem o e-mail desse blog, foi apenas digitar no google e ele me mostrou lá, tudo salvo, senha, perfil, tudo, foi só escrever. Esse computador é demais!

Bom, isso tudo foi apenas para dizer a mim mesma: Boas vindas escritora, volte mais aqui! E com certeza, voltarei. Mas antes vou revirar tudo que escrevi e senti, só para dar uma lembradinha de onde parei.

Gratidão _/\_